Os portugueses foram os donos
do Oceano Índico por décadas. Não
foi tarefa fácil no tempo em que uma viagem de 14 mil quilômetros podia durar,
fácil, fácil um ano. Isso se metade da tripulação conseguisse chegar viva ao
destino.
Afonso de Albuquerque tinha
quarenta e tantos anos em 1503. Era o capitão da esquadra que, mais uma vez, se
aventurava pelos mares à direita do Cabo da Boa Esperança para realizar a
missão estratégica de Portugal: manter a hegemonia mundial no comércio de
especiarias.
Assim como seu conterrâneo Vasco
da Gama, Afonso adotara o código de honra dos fidalgos baseado no tripé:
combate sem tréguas aos muçulmanos, lealdade à coroa e incorruptibilidade
visceral. “Sou um homem que, se você me
confiar uma dúzia de reinos, saberia como governá-los com grande prudência,
discrição e conhecimento”.
Pule 515 anos. O Brasil
descoberto por Pedro Álvares Cabral continua
sendo uma caravela quase à deriva. Singra seus mares existenciais apenas quando
sopra um tíbio vento favorável. Do contrário, queda-se imóvel vítima de uma
calmaria interminável.
Nada parece ter força suficiente para libertar a Nação de
ideias e valores que ancoraram nossa nau nas profundezas do mar das tormentas.
Temos um Congresso que nos
custa 29 milhões de Reais por dia (é isso mesmo que você leu) e dá guarida aos
mais caros parlamentares do planeta. O
retorno você conhece: leis cruéis, privilégios hediondos. Os partidos
políticos, pouco mais que um agrupamento de salteadores ávidos pela repartição do
butim nacional, receberão 3 bilhões de Reais para sua autoperpetuação. É isso
que foi aprovado como financiamento de campanhas. Mas há fatos piores.
Quarenta e cinco mil
indivíduos possuem Foro Privilegiado
– o estratagema legal para a consumação de crimes sem a punição correspondente.
Na Alemanha, apenas uma pessoa o possui. Na China, meros 2.987.
A reforma jamais feita da Previdência não interessa ao bem armado
grupo de lesa-pátrias tendo à frente a elite de servidores públicos que se
refestela com o dinheiro de aposentadorias imorais suportadas por nós, os lobotomizados
pagadores de impostos. No ano passado, o
déficit da previdência bateu na casa dos 270 bilhões de Reais sem que nenhuma voz
congressista tenha se levantado para estancar a sangria.
O “mecanismo” brasileiro é
único no mundo: tira dos mais pobres para dar aos mais ricos. Estes, escolhidos
a dedo e ungidos com benesses inquestionáveis. Como aceitar um Estado que empresaria
instituições financeiras, exploradores de petróleo e entregadores de
correspondência pouco ou nada comprometidos com eficácia, somente para favorecer
grupos políticos?
Enquanto isso somos o país
número 153 em termos de liberdade econômica, atrás de Serra Leoa e uma posição à frente do Afeganistão. O número 1 em liberdade econômica é Hong Kong. Os chineses não são burros.
Mantiveram o que há milênios tem dado certo.
Por aqui, o governo gasta 40 %
do PIB para se autossustentar. A dívida pública come 73% das riquezas que
produzimos e nada parece indignar o cidadão de bem. E dá-lhe tributação
escorchante, sistema jurídico arcaico e a interferência macabra do governo na
vida do empreendedor.
Chega! João Amoêdo, fundador
do Novo e candidato à presidência da
república pelo partido, disse no Fórum da
Liberdade, realizado neste mês na cidade de Porto Alegre “O capitalismo é sabotado no Brasil porque
seus princípios e valores põem a nu o mecanismo da manutenção de privilégios
desde 1.500”.
A falta que faz um Afonso de Albuquerque...
Em 2018, não reeleja ninguém.