Decidi dar uma pausa nas postagens de cunho político. Confesso não estar
em minhas melhores condições intelectuais e psicológicas para enfrentar o
enigma cruel em que nos enredamos. Como explicar que um partido que
praticamente destruiu o país e cujo líder máximo está preso por crimes de
corrupção (e ainda responderá a, pelo menos, seis processos na justiça) consiga
mobilizar considerável parcela da sociedade?
Como explicar que Requião, Renan e a notória Dilma sejam líderes nas
pesquisas de intenção de voto para o senado? Melhor falar de arte.
O Tate Modern é o terceiro
lugar mais visitado de Londres. No ano passado recebeu 6,4 milhões de pessoas
tornando-se o museu de arte moderna mais procurado do planeta. Instalado em uma
antiga usina elétrica às margens do Tâmisa, desativada em 1981, foi totalmente
reconfigurado através do espetacular projeto dos arquitetos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron. Abriu suas portas em 12 de maio de 2000.
O Tate é um conjunto de dois
edifícios a “Boiler House” (Casa da Caldeira) com 6 andares e o anexo “Blavatnik”
com 10 andares. Um dia é pouco para apreciar todas as suas atrações que não se
resumem apenas às exposições de altíssimo nível. Tem cinema, bares,
restaurantes e, claro, um mirante para descortinar Londres em 360 graus. Muito
melhor (e mais barato) que a London Eye.
Museus como o Tate não fazem
uma simples exposição. Criam um evento temático que arrastam e emocionam
multidões planetárias. Afinal, os museus são os grandes potencializadores do
turismo de massa.
A exposição que vi chama-se Picasso
1932. Love, Fame, Tragedy. Documenta o ano considerado decisivo para o
artista.
Impossível separar Picasso, o
superstar, do Pablo Picasso (1881-1973) de carne e osso. Fez
sua primeira tela aos oito anos, criou uma forma inteiramente nova e
revolucionária de pintar (cubismo), fez praticamente tudo: óleos, desenhos,
cerâmicas, esculturas. Amante compulsivo, teve por baixo, uma dezena de casos
extraconjugais. É dele dois dos quadros mais importantes do século 20. Les Demoiselles d’Avignon (1907), o
marco inicial do cubismo, que se encontra no MoMa de Nova Iorque e Guernica
(1937) – museu Rainha Sofia de
Madri.
A cada “fase” (azul, rosa, africana, cubismo), permeada por fortes
emoções geralmente advindas de paixões turbilhonantes, entregou obras-primas e
definitivas. O tema da exposição do Tate
é o icônico ano de 1932. Picasso ultrapassando
a barreira dos 50 anos, já reconhecido e milionário, apaixonado por Marie-Thérèse Walter, uma loirinha de
22 anos que ele levava para encontros furtivos em sua recém adquirida mansão do
século 18 na Normandia (Boisgeloup).
Você pode apreciar, mês a mês, a produção de Pablo naquele ano: de janeiro com a famosa série “mulheres
sentadas na poltrona” (Marie-Thérèse em vários momentos) passando pelo pico
criativo de março onde em apenas doze dias pintou um conjunto de telas
memoráveis no intuito de provar aos críticos e ao seu rival Manet que pintura figurativa podia ser
moderna.
Abril? Picasso surrealista. Junho? Mulher em uma poltrona amarela... Setembro?
A extraordinária série de desenhos com o tema religioso “o crucifixo” Novembro?
Tragédia com a quase morte de Marie Thérèse após contrair difteria ao nadar no contaminado
rio Marne. Agora a palheta de Picasso é inundada por tons escuros.
E o mundo no olho do furacão. A Europa cambaleante na política e na
economia. Hitler em ascensão. Mussolini, consolidado como ditador. Espanha
em guerra civil.
E na Terra de Vera Cruz, neste setembro negro de 2018, nosso calvário particular.
Nação dividida. Cidadãos de bem aterrorizados. Democracia apunhalada. Museu
incendiado... De Picasso só ficamos com a tragédia.
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