Rolava
o ano de 1977. Eu tinha 28 anos. Ainda não havia entrado na Volvo do Brasil (minha empresa do coração) o que ocorreria apenas em 12
de julho de 1978. Minha filhota querida, Priscilla
tinha 4 anos e Ernesto Geisel era o presidente do Brasil. O PIB naquele ano causaria furor nos dias
de hoje: crescimento de 4,6% mas, a inflação beirava os 40% ao ano, sinal de
que o modelo desenvolvimentista dos governos militares dava sinais de
esgotamento. A grande novidade automotiva por aqui chamava-se Fiat 147, fabricado em Betim-MG. Eu
tinha uma Brasília bege (a cor da
moda) e usava óculos Ray Ban verde
escuro com calça e camisa jeans. Esse era o look da época.
Mas,
nada disso importa. O que importa mesmo é que neste ano, Donna Summer (1948-2012) revolucionava a música (sim, a música pop
e não somente a “disco”) com um som totalmente novo e hipnotizante. O disco era
I remember yesterday. A música iria
moldar os arranjos do futuro. Um acorde base, criado no famoso sintetizador
Moog era tudo o que as pistas precisavam para a gente ir à loucura. Apesar de
possuir voz possante, Donna apenas emitia um fio de voz cristalina e etérea que
nos abduzia para esferas tão inexploradas quanto proibidas. E dá-lhe o refrão fluido
como um coquetel de menta: I feel love!
Ninguém
ficava sentado quando os primeiros sons graves emergiam das caixas acústicas
como um alerta geral . Daí pra frente era o êxtase em forma de ritmo embalado
pelas luzes que giravam refletidas em uma bola espelhada.
Que Techno
que nada. Aqueles acordes que pulavam dos teclados eletrônicos batiam fundo nos
nossos corações descarregando toneladas de hormônios mais poderosos que o
míssil do Kim Jong-un. Diz a
história que David Bowie estava
gravando em Berlim quando seu produtor entrou alucinado no estúdio gritando:“Acabo de ouvir o som do futuro”. Era Donna Summer cantando I feel love.
I feel love
ficou nos primeiros lugares nas paradas de todo o planeta. Virou um ícone. Faz
parte de qualquer lista das melhores músicas dançantes de todos os tempos.
Prefiro ouvir Donna Summer ao invés do William
Bonner no Jornal Nacional atirando na nossa cara que somos um castelo de
cartas (marcadas) prestes a ruir.
Um acorde, um refrão, uma deusa. É
disso que precisamos para criar coragem neste inverno gelado de 2017.
De brinde pra você, caro leitor.