Saramandaia é o
alter ego do Brasil. Não é preciso muito esforço para identificar, em cada um
de seus tipos exóticos, personagens conhecidos de nosso dia a dia. Como toda
ficção que se preza, do Sítio do
Pica-Pau Amarelo a Games of Thrones,
Saramandaia tem, no encontro (e embate)
dos opostos seu grande trunfo.
Seu
Encolheu, é o franzino marido de Dona Redonda. Com o porte atlético de um caniço ele transita entre
ser o capacho do Prefeito (para quem trabalha) e a subserviência visceral aos
desejos gastronômicos da consorte.
Dona
Redonda é a figura cuspida e escarrada do próprio Estado
brasileiro: um ogro gigante e insaciável que impõe aos que trabalham uma carga
de demandas sem fim e cobranças escorchantes. O contrapeso da realidade nos
ensina que sem uma intervenção radical o Estado, tal como o conhecemos, jamais
explodirá sozinho, já que seu estômago voraz sempre encontra um meio de se
dilatar para triturar inexoravelmente o dinheiro dos impostos arrancados sem dó
dos cidadãos que suam a camisa.
Mirko
Vincenzo Giannote é juiz da 6ª Vara da Comarca de Sinop/MT – cidade
com pouco mais de quarenta anos de idade que se transformou, pela força do
agronegócio, em uma Xangrilá da prosperidade. A questão é que esse cidadão
recebeu no início deste mês, a aviltante soma de R$ 503.900,00 como vencimentos
legais.
Isso porque, uma decisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) autoriza o pagamento extra
sustentado pela pornográfica concepção de que no período entre 2004 e 2009, Giannote trabalhou em uma comarca de
maior porte recebendo salário menor do que a função exercida. Explico: o
salário-base desse juiz é de polpudos R$ 28.947,55 mas isso é apenas a ponta
visível do iceberg. Abaixo da linha do oceano da desfaçatez, o magistrado
aufere:
1. R$ 300.378,00 de
“remuneração paradigma” (valor do salário de um empregado em determinada função
que serve de equiparação para outro, na mesma função) que inclui: remuneração do cargo efetivo, gratificação de
atividade judiciária, vantagem pecuniária individual, adicionais de
qualificação, gratificação de atividade externa, gratificação de atividade de
segurança.
2. R$
137.522,00 de indenizações
3. R$ 40.300,00 de
vantagens individuais
4. R$ 25.700,00 de
gratificações
Mas, claro, ele não está só. Nove outros
afortunados juízes mato-grossenses receberam salários acima de R$ 300 mil. Um
deboche ao fictício teto do funcionalismo público que atualmente está fixado em
R$ 33,7 mil.
O buraco tem a dimensão do J0100+2802 (o maior buraco negro conhecido, com massa 12 bilhões de
vezes maior que o nosso Sol) e serve para acomodar, além dos juízes de salários
monstruosos, políticos federais, estaduais, municipais e funcionários públicos
dos três poderes que compartilham com Dona
Redonda os genes de uma pantagruélica obesidade mórbida.
O editorial de hoje do jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, não poderia ser
mais preciso:
“O País
ficou pequeno demais para abrigar a ‘privilegiatura’ e a democracia ao mesmo
tempo. Um dos dois terá de morrer e eles (os políticos) são os primeiros a
saber disso.
...
Os jatos,
os carros, as casas, os empregados, os seguros saúde, as assessorias, os
salários turbinados, os auxílios de arrombar o teto, os reajustes leoninos sem
inflação, as aposentadorias integrais na flor da idade, tudo isso tem não só de
acabar, mas regredir ao limite sustentável”.
...
“Não há
exército que conserte o que está aí, sobretudo se mantida nossa Justiça, a mais
cara e leniente com o mundo do crime no mundo. Este país só se salva
enriquecendo. E só começará a deixar de empobrecer se e quando trocar o
privilégio pelo mérito também ‘lá dentro', exatamente como é aqui fora. O que arrebenta este país é a roubalheira
automatizada pela lei.”
Seu
Encolheu, não serve como paradigma. Como se sabe, ele se
apaixonou por Dona Bitela, irmã de Dona Redonda, que, ao chegar à cidade
também começa a engordar desbragadamente.
A única forma de dar um novo final a esse
folhetim de quinta categoria que ajudamos a escrever nas urnas é, tão somente,
através do voto e com isso, enterrar, definitivamente, os mortos-vivos que
transformaram o Congresso Nacional no túmulo da Nação.
URGENTE!
Às 20:39 o jornal O Estado de São Paulo publica:
"O corregedor Nacional de Justiça, ministro João Otávio de Noronha, determinou a abertura de pedido de providências para suspender os pagamentos milionários de salários de juízes no Mato Grosso."
URGENTE!
Às 20:39 o jornal O Estado de São Paulo publica:
"O corregedor Nacional de Justiça, ministro João Otávio de Noronha, determinou a abertura de pedido de providências para suspender os pagamentos milionários de salários de juízes no Mato Grosso."
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