Em 2015, a Itália recebeu 50,7 milhões de turistas. A
Espanha, 68,2 milhões. Os dados são da Organização
Mundial do Turismo. Espanha é o terceiro país mais visitado do planeta.
Itália o quinto.
Aí você pode argumentar que ambos estão na Europa, berço da
cultura ocidental e ícone inconteste da civilização humana. A coisa não
funciona assim. Não basta ter o que mostrar. É preciso ter uma política clara,
eficaz e permanente para o turismo. Isso quer dizer: estrutura de mobilidade de
primeiríssima linha, hotelaria de qualidade para todos as faixas de poder
aquisitivo e, o mais importante: profissionais competentes e atenciosos em
todas as áreas com potencial receptivo.
Espere um pouco. Se você quer incluir nessa relação coisas do
tipo “limpeza” e “segurança”, saiba que isto é tão somente pré-requisito. Quem
não oferece está fora do jogo.
Itália e Espanha têm muito a nos ensinar. Sou, particularmente,
um turista exigente. Ao sinal da menor indisponibilidade para um atendimento
decente, caio fora na hora.
Pois bem. Em três semanas de périplo por Itália e Espanha
distribuído por cinco cidades famosas não registrei nenhum caso de atendimento inadequado.
E isso vale para motoristas de táxi, garçons, recepcionistas de hotéis,
policiais, vendedores de lojas e até camelôs. Todos, puderam se comunicar em
inglês. Todos demonstraram prazer em receber e ajudar.
Claro que isso é um
processo que começou muito tempo antes até que os países líderes do ranking mundial
finalmente entendessem que “turismo” é business
na veia em dose máxima. É dinheiro girando na economia. É a garantia de emprego
e desenvolvimento pessoal.
Você chega a Roma e descobre que pode ver La Traviata de Verdi por um preço acessível em um teatro intimista com, claro, cantores
medianos que ninguém faz milagres. O espetáculo é honesto. Perfeito para
iniciantes. Deve ser um nicho de mercado rentável pela extensão do programa
existente que cobre praticamente o ano todo.
Em Veneza, após um dia estafante entre gôndolas e museus que
tal assistir um Tributo a Vivaldi no
Ateneo Di San Basso ? Outra sala
pequena e espartana (com bancos de madeira) mas, com excelente acústica.
Chegue a Barcelona e se entregue às delícias da guitarra
clássica flamenca em uma capela da Basílica
del Pi. Na verdade, uma pequena sala com capacidade para não mais que cem
pessoas.
Onde você come no Brasil, em um boteco, uma salada de
primeira, um prato de massa, uma taça de vinho e sobremesa por nove euros (R$
30,87 na cotação de hoje)?
Tá cheio de opções assim na Itália e Espanha. De brinde, uma
atmosfera acolhedora e atendimento gentil. Refiro-me ao La Muralla- bar de tapas no bairro de La Latina em Madri.
Paguei, semana passada, em um “estabelecimento” da Fradique
Coutinho, bairro de Pinheiros-São Paulo por uma salada de folhas machucadas (só
alface e tomate) e um peito de frango, sem bebida e sem sobremesa praticamente
o mesmo valor. Percebeu o estágio do nosso turismo?
Nem vou falar dos policiais gentis que podem te dar
explicações em pelo menos duas línguas. Nem dos grupos de crianças do
pré-primário (seja lá o nome que isso tenha agora) na Fundação Joan Miró de Barcelona recebendo aula de pintura...
Enquanto isso, vamos ficando no 44º lugar no ranking mundial com
escassos 6 milhões de visitantes em 2015 (dados oficiais do Ministério do Turismo). Ah! Ia esquecendo. Em 2015 o turismo mundial cresceu 4,4%
e o número de pessoas que nos visitaram encolheu.
Os motivos você já conhece.
Obs.: A imagem de abertura retrata crianças de uma escola de Barcelona tendo aula sobre a obra de Joan Miró.
Obs.: A imagem de abertura retrata crianças de uma escola de Barcelona tendo aula sobre a obra de Joan Miró.