A trama é tão primária que Sherlock Holmes não levaria mais que 2 minutos para destrinchá-la. Celso Augusto Daniel-PT estava no seu terceiro mandato como o
prefeito de Santo André-SP. Hoje, graças ao destemido didatismo da Operação Lava-Jato o país inteiro sabe
(mais precisamente 93%) como as coisas funcionam na organização criminosa
lulopetista.
Celso
Daniel era conivente com o (hoje) manjado esquema de desvio de
verbas públicas para o caixa 2 do PT.
Quando ele descobriu que parte da bufunfa ia direto para os bolsos dos companheiros
articuladores-meliantes, resolveu botar a boca no trombone (roubar para o partido,
pode; roubar para si próprio, não pode).
A partir daí, o enredo
terminou como um filme B de terror. Daniel
foi brutalmente torturado e assassinado com oito tiros a queima roupa por
bandidos terceirizados por Sérgio Gomes
da Silva (codinome “O Sombra”) dublê de empresário e seu ex-segurança.
A teia de vermes-predadores do erário era assustadora. Ronan Maria Pinto, um empresário ligado
a Daniel chantageou Gilberto Carvalho
(na época secretário geral da presidência do governo Lula que também já havia sido secretário de comunicação do
ex-prefeito) ameaçando envolver o nome de Lula
na morte de Celso Daniel. A
chantagem, ao que tudo indica, foi paga através de propagandas de estatais ao periférico
jornal Diário do Grande ABC (tiragem
de 40 mil exemplares e propriedade de Pinto).
O jornal recebeu apenas da Caixa
Econômica Federal entre janeiro e maio de 2005 R$ 1,3 milhões em anúncios (como
comparativo, a Folha de São Paulo,
no mesmo período, recebeu um terço disso).
Advinha quem era o leva-e-traz do dinheiro criminoso desviado
de Santo André para o PT? Ele mesmo. Gilberto Carvalho. Aliás, o Ministério Público Federal tenta, desde
2010, sem sucesso, dar prosseguimento à ação por improbidade administrativa que
tem Gilberto Carvalho e o PT como réus. A ação não possui sequer
previsão de julgamento. O MPF pede
que sejam devolvidos aos cofres públicos R$ 5,3 milhões desviados de Santo André.
Como todos sabemos, a lama do esgoto petista corre solta para
o mar das iniquidades. O presidiário Marcos
Valério, operador do mensalão, em depoimento disse que Silvio “Land-Rover” Pereira, ex-secretário geral do PT, denunciado
por formação de quadrilha, peculato e corrupção havia lhe pedido R$ 6 milhões
para calar definitivamente o mesmo Ronan
Pinto que (novamente) poderia envolver Lula,
Gilberto Carvalho e o PT na morte de Celso Daniel. Segundo Valério, a chantagem foi paga através do ex-amigo
íntimo de Lula, José Carlos Bumlai por meio de “empréstimo” no Banco Schain.
A queda definitiva de Lula
passa necessariamente pelo “Caso Celso Daniel”. Lula e o PT sabem disso.
A morte de Daniel ocorreu em 2002. Sérgio
“Sombra” da Silva teve seu processo anulado pelo STF em circunstâncias nebulosas. O relator sabe quem era? Ele
mesmo. Ricardo Lewandowski: fiel
amigo de Lula.
A juíza Maria Lucinda
da Costa, da 1ª Vara Criminal de Santo André condenou em 23 de novembro
deste ano Ronan Pinto a 10 anos e 4
meses pelo esquema de corrupção entre 1999 e 2001. Foram condenados também Sérgio “Sombra” da Silva e Klinger Luiz de Souza, ex-secretário de
Celso Daniel a 15 anos e 6 meses de
prisão. O trio pode recorrer em liberdade.
Marcos
Valério jamais foi ouvido pelos promotores de Santo André. Em 2006 o Ministério Público fez nova tentativa sem
êxito. Advinha quem entrou com uma liminar no STF para impedir que Valério falasse? José Dirceu. O incrível é que o STF acatou.
Sete testemunhas do caso Celso
Daniel morreram em circunstâncias misteriosas. Dionísio Severo, um dos “sequestradores” e principal testemunha foi
assassinado três meses após o crime. Sérgio
“Orelha” que deu esconderijo a Severo foi fuzilado em 2002. Otávio Mercier, investigador da Polícia
Civil, foi morto a tiros em sua própria casa. Antônio de Oliveira, garçom que atendeu Celso Daniel na noite do crime foi eliminado em fevereiro de 2003. Paulo Brito, testemunha da morte do
garçom, foi alvejado um mês depois e faleceu. Iran Redua, agente funerário que reconheceu o corpo de Daniel e
chamou a polícia foi apagado com dois tiros em novembro de 2004. Carlos Printes, legista que confirmou
marcas de tortura no cadáver de Daniel foi encontrado morto em seu escritório
em 12 de outubro de 2005.
Cinco réus foram julgados e condenados. O caso Celso Daniel assombra Lula e o PT. Parece que o fantasma só sossegará quando toda esta história
macabra for esclarecida. Treze anos se passaram desde o brutal assassinato de
Daniel. O nó da questão continua sendo: quem, verdadeiramente, é o mandante do
crime? A resposta pode ser a pá de cal que falta no túmulo do PT.