O papel aceita qualquer coisa, diz o senso
comum. Empresas do mundo todo costumam descrever-se como as mais confiáveis
guardiãs da qualidade, das relações com clientes e da ética. Na maioria das
vezes puro engodo travestido de “Missão”, Visão” e “Valores”. É óbvio. Sabemos
que empresas não podem sair por aí revelando o que elas realmente acreditam e praticam.
Por isso, mentem.
A ENGEVIX,
uma das investigadas pelos paladinos do juiz Sérgio Moro, teve hoje,
seu proprietário José Antunes Sobrinho
preso na 19ª fase da Operação Lava-Jato. A empreiteira é suspeita de ter
despejado na ARATEC, empresa do já
encarcerado vice-almirante Othon Luiz Pinheiro, R$ 4,5 milhões. Isso é apenas a
ponta do iceberg. Fernando Baiano,
em delação premiada, entregou que a ENGEVIX
intermediou propina de mais de R$ 20 milhões em outros negócios escusos. Daí a
prisão de José Antunes.
Entre no site da ENGEVIX e você encontrará declarações que fariam Peter Drucker aplaudir de pé:
VISÃO:
“Ser reconhecida como um
centro de excelência em todas as atividades”.
VALORES: “Ser sempre
melhores” (sic).
Nada muito
diferente da gigante global Volkswagen
que foi flagrada fraudando a Agência de
Proteção Ambiental dos Estados Unidos.
O espertos alemães instalaram, ora vejam, um sofisticadíssimo software em alguns
de seus modelos para adulterar a emissão de gases poluentes nos testes realizados
pela agência. Tudo porque alguns dos carros com motor a diesel da montadora não
atendiam a legislação local. 482 mil automóveis
fabricados entre 2009 e 2015 foram desmascarados. As ações da VW despencaram no pregão de hoje na Bolsa de Frankfurt.
Voltemos à Lava-Jato. Sua edição 19 recebeu o nome
de “Nessun Dorma” (Ninguém Durma). Alguém na Polícia Federal de Curitiba, assim como eu, gosta de ópera. Nessun Dorma é uma das mais belas árias
de Turandot derradeira obra de Giacomo Puccini.
No mundo da
ópera, tragédia pouca é bobagem. Turandot é uma princesa cruel e linda - versão feminina de Chuck- o boneco
assassino. Ela decidiu que só se casaria com quem conseguisse decifrar três
enigmas. Quem não decifrar é
sumariamente morto.
Um dos
pretendentes Calaf, QI maior que 200, filho do rei tártaro Timur, exilado em Pequim os decifra mas
percebe que Turandot, assim como Dilma Vana, não tinha a menor intenção
de cumprir sua promessa.
Para não sair de mãos abanando, o príncipe propõe à princesa o seguinte
desafio: se ela advinhar seu nome antes do amanhecer estará livre da promessa e
ele aceitará morrer. Turandot
apela pela manjada tática de torturar Timur
e Liú (uma moça secretamente
apaixonada por Calaf) até que
confessem o nome do pretendente.
Liú prefere matar-se a desvendar o nome do amado.
Para tentar encerrar o imbroglio, Calaf beija a princesa na esperança de
derreter seu coração de titânio e como sói acontecer com príncipes heróicos,
revela seu nome deixando a Turandot a decisão sobre sua vida.
Beijo de príncipe galante não é fácil e Turandot por fim capitula e se une a Calaf. Até tudo ser resolvido, claro: ninguém
dorme...
A ária “Nessun
Dorma” cantada no início
do terceiro ato é uma das mais belas e emocionantes peças musicais para a voz
de um tenor dramático. E ninguém cantou-a como o imortal Luciano
Pavarotti ovacionado
em cena aberta no Metropolitan de Nova Iorque. Veja que fantástico!