A Dinamarca tem se
consagrado como um dos países menos corruptos do planeta desde que este tipo de
ranking começou a ser elaborado em 1995 pela Transparência Internacional.
Nas últimas duas décadas o país de Hamlet tirou o primeiro lugar nove
vezes e o segundo lugar sete vezes. Sua pior posição foi o quarto lugar nos
anos 2005 e 2006 com índice igual a 95,0 (quanto mais próximo de zero mais
corrupto é o país e quanto mais próximo de 100 menos corrupto).
Na primeira pesquisa em
1995 o Brasil, dentre os 54 países pesquisados, ficou no 40º lugar com
índice=27,0. A Dinamarca já cravava a segunda posição com índice igual a
93,2.
É evidente que os
dinamarqueses não constituem uma casta de privilegiados que receberam o dom
divino da honestidade e tampouco possuem impregnados em seu DNA o gene
bloqueador de práticas antiéticas. Então, qual é o segredo deles?
De acordo com o
pesquisador Mette Jensen da Universidade de Aarhus, a monarquia
absoluta, introduzida no país em 1660 por Frederico III, criou a base
institucional para o combate à corrupção definindo claramente regras de conduta
para todas as categorias de funcionários públicos. Veja você, caro leitor, que
já no século 17 a alta gestão do país tomava a corretíssima decisão estratégica:
nenhum cargo público era automaticamente destinado a nobres ou endinheirados
influentes. Todos eles, sem exceção, eram preenchidos por simples civis com
base apenas em sua qualificação.
Criava-se assim um
compromisso de lealdade ao governante por parte do funcionalismo público que
sabia depender exclusivamente de sua própria conduta para permanecer no cargo.
Claro que nem tudo eram
flores. Em 1676 foi instituída uma lei duríssima que contemplava com a pena de
morte o simples recebimento de “bebidas e outros presentes” para quem ocupasse
um cargo público. Ao final de 1690 o país já contava com um amplo e consolidado
conjunto de leis que regulamentavam todos os tipos de punição para atos de
corrupção que iam da perda do cargo “em desgraça” até a prisão perpétua com
serviços forçados.
O rei também sabia
reconhecer e premiar aqueles que se destacavam através da correção e da
qualidade do serviço prestado aos súditos em geral. Havia um verdadeiro ranking
de competência e honestidade cujo prêmio maior era a conferência de títulos
nobiliários. Dá pra você perceber, caro leitor, a brutal diferença com o nosso carcomido
sistema? Na Dinamarca o comportamento ilibado era única porta de entrada para a
nobreza...
Pule para os dias atuais.
Desde 2012 ninguém tira da Dinamarca o primeiro lugar como o país mais
honesto do planeta. Tom Norring, embaixador do país na Hungria (posição
47 no ranking com índice = 54) convidado a dar uma palestra sobre o tema
resumiu a saga deste modo:
“Os dinamarqueses desenvolveram ao longo dos anos uma sólida tradição e
cultura que privilegia o comportamento ético com base em instituições, leis e
valores que incentivam, dentro da sociedade, a confiança não apenas entre os
cidadãos mas, principalmente, entre eles e o governo. Todo o sistema funciona
com base na integridade.
Além disso, é fundamental o papel das empresas privadas e públicas que
são geridas de uma forma absolutamente transparente o que torna praticamente
impossível a ocorrência de atos ilícitos.”
Enquanto isso, em Vanalândia,
a letra é em tudo diversa da Dinamarca. Claro que não se pode, em sã
consciência, acusar o governo petista de ser o criador da corrupção.
Desde que o Índice de Percepção
da Corrupção foi criado pela Transparência Internacional em 1995, o Brasil
tem apresentado um desempenho inaceitável. Nosso primeiro índice era de 27.
Ao longo de duas décadas orbitamos entre 35 (1977) e 43 (2014)
com mínimos avanços e decepcionantes recuos. Estamos aprisionados em uma área
perversa em que viceja o sentimento da impunidade que retroalimenta mais
corrupção.
A boa notícia é que o
Ministério Público Federal acaba de lançar nas sedes das Procuradorias da
República nos estados e municípios a coleta de 1,5 milhões de assinaturas
necessárias para a apresentação ao Congresso de um projeto de lei com 10 novas
medidas com vistas ao aprimoramento de mecanismos de prevenção e combate à
corrupção no país. Vale a pena acessar www.10medidas.mpf.mp.br
. Afinal de contas não fomos agraciados como a Dinamarca com as escolhas certas
por parte do governo nem desenvolvemos no nosso organismo social anticorpos anticorrupção.
Porém, nunca é tarde para fazer a coisa certa.
Veja a tabela com dados
históricos da Transparência Internacional sobre a corrupção no Brasil.
ANO
|
NO. PAÍSES
|
POSIÇÃO
|
ÍNDICE CORRUPÇÃO
|
1995
|
54
|
40
|
27,0
|
1996
|
54
|
40
|
29,6
|
1997
|
52
|
36
|
35,6
|
1998
|
85
|
46
|
40,0
|
1999
|
99
|
45
|
41,0
|
2000
|
90
|
49
|
39,0
|
2001
|
91
|
46
|
40,0
|
2002
|
102
|
45
|
40,0
|
2003
|
133
|
54
|
39,0
|
2004
|
146
|
59
|
39,0
|
2005
|
159
|
62
|
37,0
|
2006
|
163
|
70
|
33,0
|
2007
|
180
|
72
|
35,0
|
2008
|
180
|
80
|
35,0
|
2009
|
180
|
75
|
37,0
|
2010
|
178
|
69
|
37,0
|
2011
|
182
|
73
|
38,0
|
2012
|
176
|
69
|
43,0
|
2013
|
177
|
72
|
42,0
|
2014
|
174
|
69
|
43,0
|