Havia mais de 10 anos que eu não fazia de carro o percurso
entre Curitiba e São Paulo pela Régis Bittencourt que como todos sabem trata-se
de uma rodovia tão estratégica (única ligação direta entre São Paulo e o Sul )
quanto perigosa (5212 acidentes em 2013 com 155 mortos). Os 14 acidentes por
dia concedem à Régis a sinistra alcunha de “Rodovia da Morte”.
O inferno da Régis está na Serra do Cafezal entre os
municípios de Juquitiba e Miracatu, próximo a São Paulo. É um trecho de apenas 21
km que falta ser duplicado. O IBAMA levou duas décadas para liberar a obra.
Agora, pela enésima vez, os martirizados usuários da rodovia recebem um novo
prazo de conclusão dos trabalhos: algum mês de 2017!
Não existe no mundo civilizado nada que se compare à
incompetência brasileira em gestão pública. Em menos de dois anos o Japão
consertou todos os estragos do tsunami que destruiu Fukushima (os serviços
públicos essenciais foram reestabelecidos quase que de imediato). Toda a
infraestrutura rodoviária e ferroviária foi colocada em estado de nova. 90% dos
hospitais afetados (165 unidades) retomaram suas atividades e 80% das escolas
idem. Tudo isso em menos de dois anos!
A China construiu sua ferrovia de 2.300 km para trem-bala ligando Pequim e
Guangzhou em cinco anos. Após uma década de trabalho a China conseguiu tirar da
estaca zero uma rede ferroviária de oito mil km. Hoje, o país possui a maior
malha do planeta e esse número deve dobrar em 2020.
A Índia inaugurou o moderníssimo aeroporto internacional Indira
Ghandi em Nova Délhi (capacidade de 40 milhões de passageiros por ano) em
exatos três anos. Em Dubai, o maior terminal aéreo do mundo com capacidade de
43 milhões de passageiros ao ano foi erguido em 4 anos ao custo de USD 4,5
bilhões ( o terminal 3 de Guarulhos terá uma capacidade de 12 milhões de passageiros
ao ano e custará cerca de 1 bilhão de dólares). Não se sabe se estará pronto
para a Copa.
A incompetência não é algo aferrado à índole do brasileiro.
Temos inúmeros exemplos de empresas de categoria mundial que conseguem ser
competitivas apesar de todos os esforços em contrário habilmente engendrados
pelo governo.
A questão é o modelo de gestão pública do país. Não funciona.
Premia a incompetência. É corrupto. É vergonhoso. Em suma: um completo
desastre. Há séculos, nossos governantes insistem na nefasta estratégia de
colocar à frente de ministérios e órgãos públicos gente com um currículo que
seria rejeitado até para uma vaga de guarda-noturno.
Chegamos a 2014 com o surrealismo absoluto de 40 ministérios capitaneados
por uma gangue de parasitas cuja especialidade é debochar do cidadão que
trabalha honestamente no país (a maioria da população) através de práticas asquerosas e seu total descompromisso
com a ética e uma gestão minimamente
profissional.
Se a sociedade não enfrentar corajosamente esses comportamentos
históricos que nos envergonham e nos colocam na periferia das nações nosso
destino será virarmos uma gigantesca Serra do Cafezal.
Grande abraço!