Você já deve ter visto a cena várias vezes na TV. A pessoa é denunciada por um crime qualquer e
esconde a cara para não ser identificada. A maioria faz isso. Os motivos
parecem desembocar em um só sentimento: vergonha. Tem gente que não se esconde.
Alguns fazem gestos obscenos. Outros, cara de deboche. Uma minoria não faz cara nenhuma, alheia a
qualquer tipo de emoção não demonstra culpa alguma por seus atos. Segundo os
cientistas da mente essa é uma das principais características dos psicopatas.
Do quarteto fantástico da propina paulistana, Luís Alexandre Cardoso Magalhães, pertence a
essa categoria.
Nas rodas de “amigos” ( elementos que
certamente compactuam com seus valores) , ele costumava dizer com orgulho “Ah! Eu roubo mesmo. Sou corrupto, fazer o
quê?”
Entretanto, Luís Alexandre cometeu o infantilíssimo
deslize de se indispor com sua ex-amante Vanessa Alcântara com quem teve um filho
e (ora, vejam que prova de altruísmo) dispunha-se a pagar a título de pensão
alimentícia, degradantes R$ 700,00 mensais. Não deu outra. Vanessa pôs a boca
no trombone.
Certíssimo estava Platão ( 427a.C.-347 a.C ) que há séculos já nos brindara com
este texto atualíssimo extraído de sua obra “A República”.
“A honra do
homem se corrompe quando se transforma em ambição imoderada e na ânsia pelo
poder. A busca pela riqueza se transforma em avidez, avareza e ostentação
despudorada de bens que leva à inveja e à revolta dos pobres”.
A história da corrupção no Brasil estava cada vez mais tediosa
com a repetição compulsiva dos fatos a ponto de anestesiar as consciências mais
impolutas. Dos mensaleiros a Rosemary Noronha. De Maluf ao deputado presidiário
Donadon. O roteiro é sempre o mesmo. Ninguém é culpado. Todos são honestos e estão
dispostos a provar sua inocência em todas as instâncias possíveis.
Até que enfim, alguém abandona este roteiro e se declara
orgulhoso de ser corrupto. Parece que a bandalheira está, finalmente, chegando
ao patamar da decência.
Não sei o
que diria hoje nosso brilhante Ruy Barbosa no lugar de sua famosa frase:
“De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver
prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver
agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da
virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
Mas, espere um pouco. Uma luz teima em reacender
nossas esperanças. E ela vem do Tribunal de Justiça de São Paulo que, hoje, 4
de novembro de 2013, condenou Paulo Maluf (PP/SP) por improbidade administrativa.
Com isso, o notório deputado, procurado
pela Interpol poderá ficar, no mínimo, 5
anos sem direitos políticos.
Ele já havia sido condenado a devolver um milhão de libras esterlinas (cerca de 3,6 milhões de Reais no câmbio atual) desviados da Prefeitura de São Paulo quando de sua gestão no período 1993-1996 pelo superfaturamento do túnel Ayrton Senna. Outras empresas ligadas à sua família já haviam sido condenadas a devolver o equivalente a 57 milhões de Reais.
Ele já havia sido condenado a devolver um milhão de libras esterlinas (cerca de 3,6 milhões de Reais no câmbio atual) desviados da Prefeitura de São Paulo quando de sua gestão no período 1993-1996 pelo superfaturamento do túnel Ayrton Senna. Outras empresas ligadas à sua família já haviam sido condenadas a devolver o equivalente a 57 milhões de Reais.
Era essa a condenação que faltava para extirpá-lo
da relação de candidatos a cargos eletivos. Demorou, mas chegou. Como você já sabe,
a Lei da Ficha Limpa interdita a elegibilidade de candidatos que já tenham sido
condenados criminalmente e a punição começa a valer a partir da data da sua
publicação. Embora a defesa de Maluf tenha se apressado em declarar que irá
recorrer da decisão isso não muda em nada o cenário.
“Mesmo com os
recursos, eles não impedem a aplicação imediata da lei. A única forma de Maluf
participar de uma eleição é ter seus recursos julgados até o dia deste evento e,
obviamente, ser declarado inocente” é a opinião do juiz Márlon Reis,
presidente da Associação Brasileira de Magistrados Procuradores e Promotores
Eleitorais e fundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral.
Mas a coisa não para por aí. Maluf
terá que ressarcir os cofres públicos em R$ 9,8 milhões referentes à devolução do
dinheiro roubado e da multa respectiva. Tudo somado, a conta da “Corrupção
Maluf”, até agora, chega a mais de R$ 70 milhões. E isso parece ser só a parte
visível desse iceberg de delitos.
Verdade seja dita: perto de Maluf, o deputado
presidiário Donadon é um reles batedor de carteira com sua condenação pelo STF
pelo roubo de R$ 8 milhões. Perto do “Quarteto Fantástico da Prefeitura
de São Paulo” com seus R$ 500 milhões recebidos de propina, Maluf não passa de
um trombadinha.
Enquanto isso, nossas cadeias estão
abarrotadas de “ladrões de galinhas” que não podem pagar advogados caros e
competentes em usar todas as possibilidades infinitas que o nosso estúpido Código
Processual permite.
Só nos resta lamentar as palavras certeiras de Jorge Hage, ministro-chefe
da Controladoria Geral da União:
“Eu sempre
disse que um processo no Brasil contra um criminoso de colarinho branco
endinheirado só termina em menos de 20 anos se ele quiser. Se ele não quiser,
não termina”.
Uma triste
verdade para começarmos a semana. O que se há de fazer?
Abraços.