"Vanitas" - Pintura (1628) do artista belga nascido em Antuérpia Frans Hals (1582-1666).
Conta-se que esta era a frase repetida
diversas vezes por um servo que acompanhava os generais romanos em sua entrada
gloriosa na cidade após as vitórias de guerra. Literalmente quer dizer “Lembra-te
da morte!”. O significado não poderia ser mais claro: lembra-te que és apenas
um mortal. A frase completa é : "Respice post te! Hominem te esse memento! Memento mori!" (Olha para trás! Lembra-te
que és um homem! Lembra-te da morte!).
Há muitas variações desse tema a nos
relembrar quão vãs são as glórias deste mundo. Uma das mais conhecidas é a
frase “Sancte Pater, sic transit gloria
mundi” pronunciada no rito de coroação papal até o ano de 1963 chamando a
atenção de Sua Santidade para a transitoriedade de sua gestão e, claro, também
de sua vida terrena.
Há outras muito mais dramáticas e que
possuem o potencial de causar um impacto indiscutivelmente maior como, por
exemplo, a frase, que segundo Dante Alighieri (1265-1321) em sua “A Divina comédia”, está
afixada à porta do inferno: “Lasciate
ogni speranza, voi ch’entrate” (Deixai toda a esperança, vós que entrais). Para bom entendedor isso é
mais do que suficiente. Talvez por isso se diga que de bem intencionados o
inferno está cheio.
Verdade seja dita. Desde sempre o
orgulho humano e seu irmão gêmeo - o desprezo pelo seu semelhante - constituem
uma das mais letais deformidades de caráter.
A história está repleta dos exemplos mais brutais daqueles que detêm o
poder temporal. O imperador Nero (37dC-68dC) queimou Roma, matou a mãe e o meio-irmão. Calígula
(12dC-41dC) entre uma e outra estripulia sexual heterodoxa, nomeou Incitatus
, seu adorado cavalo, senador (muito pior fez o ex-deputado Hildebrando “Motoserra”
Pascoal –PFL que além de comandar esquadrões da morte e o tráfego de drogas no
Acre, ficou famoso por, pessoalmente, decepar braços e pernas de um desafeto
com uma serra elétrica).
A história está abarrotada de líderes
que usaram o poder de forma patológica. De Henrique VIII (1491-1547), o terror
das donzelas (6 mulheres, uma das quais morta por decapitação) a Idi Amin
Dada (cerca de 1920-2003), tirano de Uganda, sobre o qual ,diz-se,
mantinha partes do corpo de suas vítimas em um freezer para degustações
esporádicas.
Pulando para a esfera corporativa,
temos enfileirados exemplos pouco edificantes suficientes para muitas voltas em
torno do planeta. Tony Hayward, CEO da
British Petroleum foi demitido por minimizar o sofrimento dos atingidos pelo
maior derramamento de óleo no Golfo do México-2010 (“Quero
mesmo é minha vida de volta” disse ele ansioso em voltar para casa).
Bernard Madoff ex-presidente da Nasdaq,
mofa em uma prisão da Carolina do Norte-EUA (pena de 150 anos de reclusão) após
aplicar o golpe da pirâmide financeira desviando 17,5 bilhões de dólares de
investidores.
No Brasil, os escândalos corporativos,
quase sempre ligados a uma cascata (talvez melhor fosse dizer Cachoeira) de
crimes que envolvem o poder público, nos mostram executivos de todos os naipes
atolados nas mais criativas e intrincadas falcatruas. Fernando Cavendish
–Delta, Carlinhos Cachoeira- Jogos ilícitos, Adilson Primo – Siemens, José
Sérgio Gabrielli de Azevedo -Petrobras
com a compra desastrada da refinaria texana de Pasadena e por aí vai.
Mas, atravessando o pântano da
selvageria corporativa chegamos ao horto onde vicejam as árvores frutíferas do
trabalho honesto que semeia riquezas. Sim. Ele existe.
Recentemente (Jun 2013), a revista
Exame divulgou a lista dos 100 líderes com melhor reputação no Brasil tendo por
base pesquisa da empresa européia Merco. No topo, encontramos Jorge Gerdau
presidente do conselho de administração do Grupo Gerdau. Diz o texto que Jorge
trabalhara na empresa da família desde os 14 anos de idade. Na parte da manhã
labutava no “chão de fábrica”. À tarde,
se ocupava do controle de notas fiscais. À noite estudava.
Evidente que qualquer lista deste gênero
não está imune a erros de julgamento ou equívocos factuais. O segundo colocado é
Eike Batista. Provavelmente, se a pesquisa fosse feita hoje, seu nome não teria
tanta visibilidade. Eis a lista com os “10 Mais”:
Posição /Executivo
|
Empresa
|
1. Jorge Gerdau
|
Grupo Gerdau
|
2. Eike Batista
|
Grupo EBX
|
3. Roberto Setúbal
|
Itaú/Unibanco
|
4. Abílio Diniz
|
ex-Pão de Açúcar
|
5. Antônio Ermírio de Morais
|
Votorantim
|
6. Fábio Barbosa
|
Grupo Abril
|
7. Maria da Graça Foster
|
Petrobrás
|
8. Luíza Trajano
|
Magazine Luíza
|
9. Roger Agnelli
|
AGN
|
10. Alessandro Carlucci
|
Natura
|
Posição
|
Empresa
|
1.
|
Natura
|
2.
|
Vale
|
3.
|
Petrobrás
|
4.
|
Itaú-Unibanco
|
5.
|
Nestlé
|
6.
|
Gerdau
|
7.
|
Ambev
|
8.
|
Google
|
9.
|
Coca Cola
|
10.
|
Bradesco
|
É o tipo do poder exercido que efetivamente
distingue governos, instituições e empresas. É o líder máximo quem, através do
exemplo, cria uma verdadeira matriz de identidade da qual fluem valores e na qual se espelham
comportamentos e atitudes em todos os segmentos hierárquicos.
A liderança do século 21 está incorporando
às suas inevitáveis conquistas tecnológicas valores humanistas. Não se pode
mais cogitar em liderança, seja ela política, empresarial, religiosa que não tenha
por alicerce a ética, o respeito às diferenças, a busca pelo progresso social e
a conservação perene do patrimônio natural do planeta.
São tempos de um papa despojado e sensível
às novas demandas éticas e sociais. São tempos que nos fazem buscar governantes
íntegros e cuidadosos gestores da coisa pública. São tempos que nos fazem
admirar líderes empresariais que se pautam por conduta corporativa e social irrepreensíveis.
Leio na página da Volvo América Latina
no Facebook que Roger Alm, seu presidente, trabalhou um dia inteiro em uma das
concessionárias brasileiras como simples mecânico, trocando o óleo e fazendo a
manutenção dos veículos da marca. Tudo
isso para mostrar que o respeito ao trabalho ,seja ele qual for, e à pessoa
humana ,seja ela quem for, constituem valores inegociáveis da companhia. Que seu exemplo seja seguido. Afinal “Memento Mori”.