Dito assim, em um título, os menos avisados poderiam imaginar
se tratar de um filósofo italiano (português, quem sabe?).
Mas, não. Primo é um ex-presidente da multinacional alemã
Siemens que foi demitido por justa causa (fato raro nesta posição) por ter
subtraído da empresa 6 milhões de euros devidamente adicionados à sua conta
secreta em Luxemburgo. O filósofo alemão
Immanuel Kant (1724-1804) se horrorizaria com a ética de Primo (melhor dizer, a
falta dela). Primo só admite a culpa quando todas as evidências teimam em
desmascará-lo.
Entendo que você, caro leitor, não seja muito afeito a esse
negócio de “filosofia” cujo conceito frequentemente nos remete a discussões
infindáveis sobre qualquer tema que se revele hermético. Mas, talvez se lembre
de Caetano Veloso dizendo em sua música ‘Língua’ que “ só é possível filosofar
em alemão”.
A Siemens é uma empresa alemã. Gigantesca. Gaba-se de estar
presente em todos os países do planeta (exceto na Coreia do Norte). Não é pouca
coisa. As empresas acabam sendo como as pessoas. Elas possuem uma personalidade
gerada e nutrida pelo caldo cultural de onde emergem. O que se esperar de uma
empresa alemã (cujo país foi berço de alguns dos mais incensados filósofos da
humanidade) senão os rigores da ética e a inflexibilização de valores morais?
Entre no sítio da Siemens (http://www.siemens.com.br/templates/v2/templates/TemplateC.Aspx?channel=8952) e leia sobre aquilo em que ela diz acreditar.
Nossos Valores
A mais alta
performance combinada com os mais elevados padrões éticos.
Responsável
– Comprometida com ações éticas e responsáveis.
Excelente – Atingindo a alta performance e resultados excelentes.
Inovadora – Sendo inovadora para criar valor sustentável.
Excelente – Atingindo a alta performance e resultados excelentes.
Inovadora – Sendo inovadora para criar valor sustentável.
Passaria no
crivo de todos os seus conterrâneos famosos. A realidade é bem diferente. Os
escândalos éticos em que a übercompagnie
alemã está envolvida serviria de roteiro
para várias franquias de filmes de trapaça. Rode seu globo mundial e aponte o
dedo em um país qualquer (exceto a Coreia do Norte, obviamente). A Siemens, lá,
se meteu em alguma tramoia.
Na Noruega,
corrompeu funcionários do Departamento de Defesa e foi multada em 340 mil
dólares. Na Rússia a conta do suborno pago a agentes do governo chega a 56
milhões de dólares ( o diretor do Departamento de Saúde da empresa além de
multa de 20 mil dólares foi condenado a 8 anos de trabalho para o governo).
Venezuela: propina de 20 milhões. Nigéria: 10 milhões. Israel: 20 milhões.
Iraque: 1,6 milhões. China: 60 milhões.Grécia:12 milhões. Itália: 6 milhões de
euros. Argentina: 40 milhões.
A edição de
16 de dezembro de 2008 do New York Times, detalhou o esquema de corrupção da
Siemens em território americano. O jornal informava que o montante de multas a
serem pagas às autoridades estadunidenses chegava a 800 milhões de dólares.
Joseph
Persichini Jr., Chefe do FBI em Washington-EUA, declarou com todas as letras “ As ações da Siemens não podem ser
consideradas uma anomalia. Elas são o procedimento padrão dos executivos da
empresa que consideram o pagamento de propina como uma estratégia de negócio”.
Para ter
acesso ao texto na íntegra acesse
http://www.nytimes.com/2008/12/16/business/worldbusiness/16siemens.html?_r=0
http://www.nytimes.com/2008/12/16/business/worldbusiness/16siemens.html?_r=0
O tamanho do
escândalo em escala global aponta para o pagamento de 1,6 bilhões de dólares
para corromper funcionários públicos em países nos cinco continentes.
Passa pela
sua cabeça, caro leitor, que tenha sido diferente no Brasil? E aí pouco importa
o partido e os políticos in charge
apesar de que é absolutamente deplorável ver homens públicos prevaricarem. O
vício de origem vem de quem adota, como um comportamento corriqueiro, práticas criminosas
para a consecução de seus objetivos mercadológicos.
Empresas de
todos os tamanhos, da Boing à padaria da esquina, penduram nas paredes sua declaração
de Visão, Missão e Valores. Todas apregoam respeito eterno aos mais elevados princípios
morais. A maioria não passa de uma cortina de fumaça a ocultar uma realidade desapontadora.
Gottfried
Leibniz (1646-1716) disse aquilo que qualquer bípede falante já sabe (não
desmerecendo, é claro, a importância deste brilhante filósofo alemão) “Há dois tipos de verdade: a verdade da razão
e a verdade de fato”. No caso Siemens, a verdade está nos fatos.
Não
posso perder a chance de citar, também, outra filósofa alemã que parece mais
atual do que nunca: Hannah Arendt (1906-1975). Ela imortalizou a expressão “A
banalidade do mal”. Os valores da sociedade,
as práticas políticas, o comportamento dos cidadãos quando contumazes no desvio
do crime fazem com que esse lhes pareça absolutamente normal. Até quando?
Com votos de uma
semana feliz e produtiva. Abraços.
Para
você curtir, o trailer do recente filme sobre
Hannah Arendt: