Pulemos para Shakespeare (1564-1616) , suas
tragédias não param de ser encenadas, filmadas, referenciadas, copiadas com
todas as variações que seus temas possibilitam. Romeu e Julieta virou em 1961 o
clássico musical estadunidense “Amor Sublime Amor” (originalmente West Side
Story) direção de Robert Wise. No Brasil, em 2005, o filme “O casamento de
Romeu e Julieta” dirigido por Bruno Barreto trata do mesmo tema.
Em “Hamlet”, escrito por volta do ano 1600,
o rei da Dinamarca (Hamlet pai) é assassinado pelo irmão Cláudio (despejou
veneno, ora veja, no ouvido da vítima) para usurpar o trono e se casar com a
rainha sua cunhada. Hamlet filho vê a aparição do pai que lhe conta tudo e lhe
pede para ser vingado.
Os autores trágicos se multiplicam de
acordo com a nacionalidade dos leitores. Em Portugal temos Eça de Queiroz ( “O
Primo Basílio” e “Os Maias”). Na Rússia temos Fiódor Dostoieviski (1821-1881)
com “Os Irmãos Karamasov” (1879) repleto
das emoções e atitudes que nos fazem refletir sobre o que somos (“ O
demônio luta com Deus e o campo de batalha são os corações humanos”).
No Brasil, não dá pra ignorar o mestre da
tragédia de costumes Nelson Rodrigues (1912-1980) que nos deixou boquiabertos
com seu “Álbum de Família” (1945): o pai (Jonas) é um pedófilo contumaz, a
cunhada (Rute) é apaixonada por ele, o primogênito (Guilherme) ama platonicamente
a irmã (Glória); Edmundo (o segundo filho) é apaixonado pela mãe (Dona Senhorinha)
o que o impede de se casar com Heloísa. E para encerrar, o terceiro filho Nonô
(esse é louco de pedra) corre nu pela fazenda gritando como um animal ferido.
E aí desembocamos no folhetim das nove,
atual sucesso da TV, “Amor à Vida” de Walcyr Carrasco. A trama é uma colagem de
várias tragédias em várias épocas com todos os ingredientes que deixam os aficionados
do gênero em êxtase e os que dizem odiá-la culpam a Globo por desnudar os
desvãos mais profundos da miséria humana.
É uma mistura de Édipo-Rei e Rei Lear, com pitadas
de Hamlet e várias colheradas de Nelson Rodrigues, para ficar na superfície.
Freud se deliciaria de estivesse vivo juntamente com todos os estudiosos da psique
humana.
De Édipo- Rei, temos o óbvio amor
possessivo de Félix por sua mãe Pilar e
o ódio pelo pai César que por sua vez é um personagem rodriguiano, devasso emprenhador
de moçoilas e dono de um caráter sólido
como uma mousse de maracujá. Félix é o vilão gay casado com Edith que por sua
vez tem um filho secreto com o sogro César.
De Rei Lear temos a dupla de filhos, Félix
de novo, Paloma (a favorita) e a sobrinha Aline que nutre por ele um desejo
visceral de vingança tendo como pano de fundo a divisão dos bens do patriarca.
A tia de Aline ( mãe biológica de Paloma) ao que tudo indica sofreu uma tentativa
de assassinato (a mandado de César, talvez?).
Na trama secundária, o espírito de Nicole
aparece várias vezes ao marido Thales após ter falecido literalmente aos pés do
altar. Nada mais hamletiano.
Aos que criticam o folhetim, saibam que, desde
sempre, a tragédia com todas as suas variantes mais estupefacientes faz parte
intrínseca da natureza humana como forma de nos mirarmos e nos redimirmos no
ritual catártico que hoje, em lugar dos teatros gregos, o fazemos diante da
tela de nossas TVs.
Pouco mudou desde Sófocles, tenha certeza. Isso sem falar da assustadora tragédia "Medeia" em que ela simplesmente mata os filhos para se vingar do marido, Jasão.
Pilar não chegaria a tanto...
Pilar não chegaria a tanto...
O mundo vive na cultura das tragedias. A maior e mais conhecida, foi de um homem, que se dizia filho de Deus, conseguiu dividir o mundo em AC e DC e no final morreu crucificado. Quantos milhoes de vezes ja foi encenada e quantos milhoes ja a assitiram.
ResponderExcluirA segunda tragedia, na minha percepcao, foi a segunda guerra mundial, que nao e possivel leva-la ao teatro, mas, que de uma forma ou outra, mudou a cultura da maior parte do mundo. Judeus, alemaes ou nao, migraram para o resto do mundo, para escapar a truculencia Hitlerista.
Isto enriqueceu o mundo. Mesmo na minha humilde cidade de Jaragua do Sul, dois alemaes la se instalaram nessa epoca, e criaram as duas maiores industrias de motores eletricos, ate hoje reconhecidos pelo mundo todo e que criaram milhares de empregos, que no seu intimo, agradecem a terrivel tragedia!!!Nada acontece por acaso e que nao transforme sentimentos, habitos de vida e mesmo, maneiras de pensar!!!Parabens pelas tragedias relembradas!!!Rogerio Mira