“Prometheus” é um filme visualmente impressionante. Sua produção estabelece um novo patamar de qualidade cenográfica. Os atores, ao invés de contracenarem com um fundo verde (recurso muito usado para permitir a aplicação do cenário feito por computação gráfica) atuam em um “set” real, em escala 1:1, perfeito nos mínimos detalhes e que retrata a nave espacial. Mas, não é para falar de tecnicalidades que estamos aqui, não é mesmo?
“Prometheus” é o “Alien Begins” de Ridley Scott com a
explicação das questões que ficaram em aberto no primeiro filme. Agora que você
já sabe qual a origem do título (ver postagem anterior), fica óbvio que tudo
orbita em torno da questão filosófica essencial que atormenta a humanidade
desde priscas eras: “De onde viemos?”.
Neste ponto, o roteiro não é nada original. O suíço Erich
Von Däniken (1935-) escreveu o sucesso de vendas “Eram os Deuses Astronautas?”
em 1968 defendendo a tese de que somos o resultado de uma miscigenação com
extraterrestres.
Se você não sabe, em 1949 o escritor espiritualista
brasileiro Edgard Armond (1894-1982) já dissecava este tema com riqueza de
detalhes em sua obra “Os Exilados de Capela”. No livro, o autor expõe que parte
da civilização humana provém do cruzamento de seres mais evoluídos
tecnologicamente que aqui reencarnaram com a missão de apressar o
desenvolvimento humano.
Seria cansativo enumerar
o rol de autores e citações nos quatro cantos do planeta que abraça esta teoria.
Do profeta Enoque em seu “Livro Apócrifo de Henoch” Cap.6 versículo 21 “Houve anjos, chamados Veladores, que se
deixaram cair do céu para amar as Filhas da Terra”, ao hindu M.P.
Blawatiski "Pelo meio da evolução da Terceira Raça-Mãe,
chamada a raça lemuriana, vieram à Terra seres pertencentes a uma outra cadeia
planetária, muito mais avançada”.
Vamos ficar mesmo com os gregos e sua
intrigante mitologia.
Em sua primeira parte, o filme mostra
um alienígena (os cinéfilos convencionaram chamar esta raça de “engenheiros”,
porque eram os pilotos da nave encontrada no filme Alien - O 8º Passageiro).
Os “engenheiros” são cópias dos Titãs gregos: altos, alvíssimos, bonitos e
venais.
Há várias categorias de “engenheiros”. Uma delas tem a função de sacrificar-se para a propagação de sua espécie em planetas no início de seu desenvolvimento genético (como era a Terra a milhares de anos atrás). Este ser desempenha o papel de Epimeteu (ver a postagem anterior). A ele não cabe questionar os motivos, só executar ordens.
Este sacrifício se dá pela ingestão de
uma substância geneticamente modificada que o faz explodir arremessando-o à
água que é a incubadora da vida em nosso planeta. Esta substância tem a função de
possibilitar a quebra do DNA das espécies locais de modo a absorver o DNA alienígena.
Assim, parte da humanidade foi criada. Gregos, egípcios, atlantis e outras sociedades
avançadas são clones deste Epimeteu genético. A seleção natural darwiniana
se encarregou de fazer o resto.
A categoria de “engenheiros cientistas” que detêm conhecimento e tecnologia altamente avançados são os verdadeiros “Prometeus”: capazes de criar vida inteligente através da manipulação genética. Estes não aparecem fisicamente no filme. Uma cabeça gigante, qual esfinge extraterrestre, rende homenagem onipresente a estas inteligências.
Claro que, a exemplo dos deuses do Olimpo, estes extraterrestres possuem qualidades e defeitos. Assim como Zeus que se metamorfoseava em qualquer criatura viva para atingir seus objetivos (virou cisne para conquistar Leda) e deixou filhos bastardos às pencas, estes alienígenas possuem um conceito relativista de moral arvorando-se no direito de destruir aquilo que criaram.
Para eles, as raças criadas são tão
somente material genético para novas experiências. Daí a intenção de enviar à
Terra uma “Caixa de Pandora” (os vasos
onde repousam embriões de uma criatura destruidora). Uma vez aberta, estará
liberado o mal apocalíptico. A nave encontrada no planeta LV-233 da constelação “Zeta II Reticuli” está
repleta deles. O destino? A Terra.
A tripulação da “Prometheus” é uma amostra do que nos tornamos. Tem o casal de cientistas que possui forte raiz religiosa (a moça usa um crucifixo). Tem o empresário milionário de 103 anos de idade que banca a expedição da nave em busca do elixir da vida eterna. Tem os habituais tipos grotescos que, sabemos, serão os primeiros a morrer. Tem o comandante negro para dar o saudável toque de diversidade. Tem a gélida, má e linda filha do empresário que não tem qualquer escrúpulo. Tem o robô analítico que se ofende quando os humanos fazem-no recordar que ele não passa de um conjunto de chips e látex.
Mas, é naquilo que somente é sugerido, que “Prometheus” tem de melhor. A questão é que para se curtir o enredo, carece se gostar do coquetel formado por pitadas de filosofia, história, psicologia e mitologia.
Por que enviar à Terra os embriões da destruição? Será por causa do que fizemos com o meio-ambiente? Será por causa de nossas futricas religiosas? Será porque criamos um sistema socioeconômico cruel e excludente? Ou será porque nossos políticos são absolutamente desprezíveis?
Pesquisei para você, caro leitor, que chegou até aqui, o que o androide David falou no ouvido do último “engenheiro” remanescente e que resultou em um ataque de fúria do mesmo ( a cabeça do David foi arrancada). Isto é falado em língua alienígena sem tradução no filme. “Há um homem (o empresário que está na nave) que procura o elixir da vida eterna. Ele acredita que você pode conceder-lhe este desejo”.
Não vou contar mais detalhes para não estragar a surpresa daqueles que ainda não viram o filme. Mas, teremos uma continuação, Ah! Se teremos...
Grande abraço!
Nota do autor:
A pedidos, escrevo abaixo a frase que David disse ao "engenheiro" e sua tradução literal. Para maiores detalhes acesse http://www.prometheus-movie.com/community/forums/1
"Este homem está aqui porque ele não deseja morrer. Ele acredita que você poderá lhe dar a vida eterna".